2022: a eleição em que todos venceram!
A eleição de 2022 pode ser interpretada por diferentes ângulos, mas sob o olhar deste escriba, ela pode ser vista como a eleição em que todos venceram. Tal assertiva pode parecer loucura da cabeça deste cientista político. Contudo, vamos aos argumentos que sustentam minha afirmação.
O primeiro vencedor, podemos dizer, foi o campo democrático, aqui compreendido como àqueles que defendem a democracia como o limite máximo da disputa política, tanto à direita quanto à esquerda do espectro político. Nesta perspectiva, quando se observa as alianças do presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, tanto no primeiro turno quanto no segundo, com forte diálogo com todo o espectro do centro democrático (os mais moderados à esquerda e à direita), com inclinação de agenda de governo ao Centro, com pitadas à direita democrática e à esquerda democrática.
O segundo
vencedor foi a direita democrática, pois conseguiu reeleger Zema, em Minas
Gerais, 2º colégio eleitoral do país, e Cláudio Castro, no Rio de Janeiro, 3º
colégio eleitoral do país; e, especialmente, Tarcísio de Freitas, em São Paulo,
maior colégio eleitoral do país. Neste caso, a eleição de Tarcísio de Freitas é
bastante simbólica e importante para o campo conservador democrático, posto que
São Paulo, querendo ou não, é o centro dinâmico da economia brasileira, o que o
torna um personagem com forte poder de pressão junto ao Congresso, e, também,
com bastante visibilidade política no cenário nacional, projetando-o para voos
maiores na política nacional, caso consiga realizar uma boa gestão em São
Paulo.
O terceiro
vencedor foi a extrema direita que conseguiu emplacar seu candidato, Jair
Bolsonaro, à condição de segundo mais votado nestas eleições, podendo
conservar-se como seu líder, a depender da projeção de outras lideranças com
mandato como, por exemplo, Sérgio Moro e/ou Deltan Dallagnol que podem capturar
parte deste eleitorado para si no médio prazo. Embora, isso parece um pouco
distante em função da organicidade bolsonarista.
O quarto vencedor
foi a extrema esquerda que conseguiu eleger Guilherme Boulos, com expressiva
votação em São Paulo, fazendo com que o PSOL, ampliasse sua bancada no
Congresso Nacional, tornando-o a liderança mais expressiva neste campo
político.
O quinto
vencedor, na verdade, são três: Geraldo Alckmin, Marina Silva e Simone Tebet. O
primeiro, volta a ter um papel importante na política nacional, depois de 4
anos ausentes dos grandes debates nacionais, posto que estava sem mandato
eletivo. A segunda, Marina Silva, volta ao cenário política nacional com forte
peso na eleição de Lula, trazendo consigo a agenda ambiental e o arrefecimento
dos evangélicos à candidatura de Lula. A terceira, Simone Tebet, talvez, tenha
sido a figura mais emblemática neste segundo, pois conseguiu demonstrar
firmeza, liderança e carisma, angariando forte apoio para eleição de Lula.
Neste cenário, ela se projeta como forte liderança para voos futuros dentro do
campo democrático brasileiro.
O sexto vencedor
foi Ciro Gomes, pois embora tenha perdido bastante votos e ficado em 4º lugar
na corrida presidencial de 2022, conseguiu ver emplacado nas campanhas dos
adversários e nos programas de governos, muitas de suas pautas programáticas
como, por exemplo, a taxação de lucros e dividendos, bem como a renegociação de
dívidas.
O sétimo vencedor
foi o presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, que conseguiu se
estabelecer como a principal força de oposição a uma possível vitória de
Bolsonaro, conseguindo congregar uma grande rede de apoio nas diferentes
esferas, que lhes permitiu a vitória nas eleições presidenciais.
O oitavo vencedor
foi o PSDB que quebrou o tabu de não reeleição de governadores no Rio Grande do
Sul, fazendo de Eduardo Leite, o primeiro governador a ser reeleito no Rio
Grande do Sul. Além disso, conquistou o governo de Pernambuco, elegendo Raquel
Lyra, primeira mulher a ser eleita governadora em Pernambuco, bem como a
eleição de Eduardo Riedel ao governo do Mato Grosso do Sul.
O resultado das eleições de 2022 produziu uma espécie de decantação no sistema partidário, pois houve menor fragmentação partidária, isto é, uma redução efetiva de partidos com capilaridade eleitoral, de fato, bem com nas representações ideológicas, cujas forças estão, cada uma com seu quinhão, representadas. Todavia, o campo democrático (Centro direita, Centro e Centro esquerda) foi a força majoritária a sair vitoriosa nestas eleições.
Em síntese, a maior vencedora foi, indubitavelmente, a democracia, que, apesar do teste de fôlego, dado o caráter polarizado destas eleições, conseguiu resistir aos diversos tipos de ataques ao longo deste período.
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