Democracia na América





É o título que recebe o nome da obra mais expressiva de Alexis de Tocqueville, intelectual e político francês, que estudou de forma minuciosa a experiência concreta da democracia estadunidense, diferenciando-a daquela que fora anunciada no horizonte da Revolução Francesa, ou seja, em sua própria pátria.

A obra é dividida pelo dilema clássico, quanto ao conteúdo, que ronda a democracia desde seus primórdios, isto é, a relação entre liberdade e igualdade e/ou, que, para a existência de uma se faz necessário a negação ou anulação da outra. Tocqueville não resolve o dilema no contexto de sua obra, mas parece diagnosticar que foi possível uma relação “harmoniosa” entre uma e outra no contexto estadunidense.

Afinal, o experimento democrático estadunidense é o caso mais longevo de “práticas” democráticas da história, inclusive, com eleições regulares ao longo destes mais de dois séculos, ainda que existam inúmeras críticas ao seu modelo de eleição indireta (Delegados/colégios eleitorais desiguais etc.). Entretanto, há consensos quanto à consistência do modelo norte-americano, especialmente quanto à estabilidade e a rotatividade, entre os dois principais partidos americanos, isto é, os Democratas e os Republicanos.

Os norte-americanos parecem ter encontrado o ponto de equilíbrio de seu sistema democrático, isto é, não permitir, por meio do voto, que nenhum partido se estabeleça no Governo Central/Federal por muito tempo. Para ilustrar, parece singular o governo do Presidente Barack Obama, ou seja, mesmo Barack Obama tendo altos índices de popularidade e aprovação de seu governo pela maioria dos norte-americanos, a democrata Hillary Clinton, candidata apoiada por ele, não obteve êxito no confronto com republicano Donald Trump, seguindo as regras do processo eleitoral do País.

Neste sentido, é preciso observar com atenção o pleito que se avizinha, pois a eleição do dia 03/11/2020, não é uma eleição qualquer, embora alguns cientistas políticos a compreendam que não haja muita diferença – no âmbito das relações internacionais – entre Joe Biden e Donald Trump, pois os americanos têm como base primeira a preservação do seu auto interesse, o que em grande medida, Tocqueville também confirma em sua famosa Obra. No entanto, divirjo do entendimento, pois temos um cenário internacional que se parece bastante com o vivido durante a Guerra Fria, isto é, com pautas ideológicas bastantes claras, mas não mais entre capitalistas e comunistas, mas entre democratas, conservadores e os diferentes extremos pelo mundo afora.

Além disso, há uma reconfiguração na geopolítica mundial, ao redor das novas potências, que parecem disputar – na órbita do capitalismo – a hegemonia estadunidense pelo controle das relações internacionais, especialmente no campo político-econômico como, por exemplo, os russos e os chineses.

De qualquer modo, a eleição não é apenas um teste ao já consolidado processo democrático americano, mas a determinação de que tipo de conteúdo e método passarão a adotar os Estados Unidos em relação ao mundo a partir do dia 3, se o da continuidade de uma agenda de extrema direita ou se a retomada de uma agenda mais comprometida com os valores do pluralismo democrático tão festejado na consagrada Carta Constitucional Norte Americana.

Assim sendo, à Tocqueville, continuamos a observar a democracia dos Estados Unidos com a devida atenção, com os elogios e as críticas que ela merece, mas, especialmente, tendo-a como o epicentro das democracias realmente existentes. Compreendendo que a depender dos resultados, as tempestades políticas podem ser mais efêmeras ou mais passageiras, especialmente no “quintal” da influência direta dos norte-americanos, isto é, a América Latina. Não se tratando, tão somente, de uma rotatividade de poder/troca de poder, mas, neste momento histórico, da resistência das democracias realmente existentes e/ou de sua (s) derrocada (s).

 

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