Quando o carnaval passar
A Política é a senhora de todas as artes,
de todas as ciências. É o que se pode
depreender da interpretação aristotélica, em sua mais famosa obra: Política. Arte entre os gregos clássicos
configurava-se como a extrema essência do belo – o ser e o devir.
Os gregos clássicos não separavam, a
rigor o homem público do homini privado, de modo que a virtude do homem
público não poderia/deveria ser diferente do homini privado. Em outras
palavras, seria ilógico ser e não ser, ao mesmo tempo, duas coisas, dois seres
distintos.
Nicolau Maquiavel, muitos séculos
depois, para ser mais preciso, no século XV, ao analisar a Política sobre a
perspectiva realista, com base em métodos mais eficiente de observação e
detalhamento, separou o homem público do homini privado, demonstrando que a Política
tem sua própria razão de ser, embora seja uma construção humana. Ela tem como
centralidade à conquista e/ou manutenção do Poder, sendo necessário para tanto
“virtude” e/ou “fortuna”. De preferência as duas coisas, mas havendo
necessidade de escolha, prefira à “virtude”.
Montesquieu, o Barão de Secondat,
numa linha distinta à de Maquiavel, prefere retornar ao gregos clássicos, em
alguma medida, e fazer, entre outras coisas, sua análise – além da sua famosa e
replicada tripartição do Poder – para o desejo de poder/vontade de poder
que leva os regimes políticos à degenerações como, por exemplo, a tirania. É dele a famosa expressão: “o poder corrompe e
poder absoluto corrompe absolutamente.”
Tempos depois, Max Weber, em sua
preciosa obra - Ciência e Política: duas vocações – racionaliza, à Maquiavel, a
concepção da Política para o sujeito político, isto é, “ou se viver para a
Política e/ou se vive da Política”. A isto, Max Weber, não faz qualquer juízo
de valor, concebendo natural viver da ou para Política, desde que a tenha como
uma profissão , isto é, a assumo como ofício - Trabalho. Não deixa de ser uma
intepretação contemporânea para o fenômeno político.
No Brasil, ainda que haja uma visão estereotipada
da Política e, principalmente dos políticos, encontramos os dois espécimes de políticos,
isto é, os que vivem da/para Política. Não são parcos os casos, nas casas
legislativas e executivos, de políticos que se encontram há muito mais de
quatro estações vivendo da e para política.
Quando eleitos, estes homens públicos costumam frequentar as “altas rodas”, antes circunscritas a um seleto grupo de patrícios/notáveis, na esperança de congraçar e de serem reconhecidos como tal, mas, passados seus pleitos, as “altas rodas” se distanciam, restando-lhes os processos, as difamações, o desprezo, a depressão do poder, ostracismos e as diversas doenças físicas e mentais. Ainda que muitos destes homens e mulheres tenham virtuosamente – no sentido aristotélicos – entregado a esta arte que permite vivermos em sociedade, sem estarmos em guerra permanente uns com os outros.
Brasileiramente, portanto, quem se entrega a viver da e para política precisa estar ciente para quando o carnaval passar, pois, despois, não restarão rei-momo e nem foliões, senão, a ressaca do poder.
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