Cidadãos, sim; devotos, não.


Tenho estudado, ao longo dos últimos vinte anos, na condição de pesquisador, de professor e de cientista político, o processo político brasileiro. Nesse período, escrevi alguns livros e artigos sobre o tema.

Confesso que, mesmo assim, não tenho qualquer pretensão de ter a chave mestra para interpretação do fenômeno político brasileiro como algo pronto e acabado. Longe disso, pois a Ciência Política, como qualquer outra Ciência, procura estudar o fenômeno com objetividade, com a devida vigilância epistemológica, ainda que estes sejam tão dinâmicos.

Apesar disso, há algumas inferências possíveis de serem feitas com forte grau de assertividade ao longo deste período que são impeditivos para realização da democracia, mesmo a liberal:

  • o comportamento eleitoral brasileiro é fortemente marcado pelo messianismo;
  • as oligarquias e os grupos partidários têm como intuito principal sua reprodução e ou permanência no Poder;
  • há pouquíssimas lideranças comprometidas efetivamente com a Res (coisa) Pública (de todos) e às que ainda existem, raramente, chegam aos postos diretivos/legislativos em função da competição eleitoral desigual, marcadamente determinada pela financeirização e mimetismo do marketing que não os alcança;
  • faltam Ulisses(s), Dante(s), Fernande(s) Faoro (s), Simon (s), Peres e tantos outros.
  • faltam aos brasileiros, um sentido pleno de experiência altiva e ativa de cidadania;
  • há uma participação maior do e no processo eleitoral dos grandes grupos de interesses econômico, com forte hegemonia, sobre os grupos minoritários.

A presença destes elementos, especialmente da ausência de uma cidadania altiva e ativa, deu brecha para formação de devotos. E onde não há cidadania altiva/ativa, os “ídolos” infernizam a vida social, com seus hábitos nada republicanos, fazendo como que os devotos se matem uns aos outros, enquanto eles assistem ao espetáculo, em pleno “coliseu”.

Quando vejo pessoas brigando, xingando, rompendo amizade uns com os outros por seus “ídolos”, chego à conclusão que realmente este País não pode dar certo.

A construção de uma Nação em base sólida exige cidadãos altivos e ativos e não devotos.

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