Sobre demagogia à brasileira: faça o que eu digo, mas não faça o que faço



O filósofo francês Charles Secondat, mais conhecido por Barão de Montesquieu, definiu que, quando um regime democrático degenera, a tendência é que este desemborque em seu antônimo, no caso da democracia, numa espécie de regime demagógico. Nesse sentido, parece-me que a sugestão de Montesquieu é bem oportuna para empreendermos a análise da atual situação política institucional brasileira.

O quadro institucional da política brasileira, pensada em termos stricto sensu, isto é, nos poderes judiciário, executivo e legislativo ratificam na teoria e na prática o quanto somos demagógicos. Afinal, estas três instâncias que deveriam ser independentes e autônomas entre si, para que assim pudessem de fato manter o equilíbrio, nada fazem no sentido de construir um sentido ético em suas práticas que não seja a reprodução da demagogia e dos corporativismos “aristocráticos”.

O Judiciário brasileiro é um dos mais caros do mundo, bem como repleto de privilégios de toda ordem, com auxílios para tudo que se possa imaginar. É extremamente autoritário em termos burocráticos em suas condutas, especialmente porque há uma casta que se reproduz internamente, especialmente em termos familiares, basta uma simples pesquisa nos portais de controle, ou mesmo no google, para constatar a afirmação. Além disso, é um espaço cuja arrogância parecer está atrelada a própria toga. Mas o pior de tudo é que, assim como todo espaço demagógico, cobra-se dos outros aquilo que pouco se pratica, pois não vemos por parte de quase ninguém do judiciário, por exemplo, o fim de seus privilégios.

O executivo, especialmente os altos escalões da “república”, é outro consórcio de demagogos que, na maioria das vezes, exigem e propõem regras às quais eles mesmos não praticam. Vejamos, por exemplo, as diversas propostas de reformas em cursos no País que visam a retirado dos direitos sociais, mas cujos propositores, em sua grande maioria, já estão contemplados com regras privilegiadas, como é caso da Reforma da Previdência (a maioria dos propositores da mesma aposentou entre 45 e 55 anos de idade).

O legislativo, este merece uma atenção especial, afinal, é nele que tudo começa e/ou acaba. O Legislativo é o maior dos poderes de uma República, pelo menos do ponto de vista simbólico, pois é ele que “representa” todos os segmentos da sociedade, bem como é nele que são criadas as leis que nos conduzem socialmente. Contudo, é nele, também, que se revela as maiores práticas demagógicas, pois das diversas tribunas que reverberam as falas dos “nobres congressistas”, a demagogia parece ser o enredo oficial de cada discurso e, sobretudo, de suas práticas. Ali tudo gira ao redor de privilégios de todas as espécies, sejam legais (imorais) ou não.

Apesar de tudo isso, as instâncias aludidas acima nada fazem de diferente daquilo que ocorre na sociedade, pois esta, em sua maior parte, tem a demagogia como princípio societário. O que mais se ver são pessoas cobrando moral dos outros, sem as terem, ou sem ao menos tentarem praticar. Aqui funciona muito bem: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

A refundação do Brasil exige uma mudança radical em nossas práticas societárias, convertendo a demagogia em democracia, de fato.

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