Habitus Democrático



As manifestações pelo Brasil levam-nos a algumas reflexões sobre os hábitos democráticos da sociedade brasileira que, a rigor, sempre esteve acossada pela turbidez de seu sistema político corrupto e corruptível.

Sabidamente, não é de hoje que os escândalos sobre desvios de dinheiro público – nesta triste combinação público-privado-público aparece na agenda política brasileira. Aliás, desde a redemocratização do País em 1988, todos os processos pré-durante-pós-eleitorais são recheados de escândalos aoss quais poderíamos, tranquilamente, traçar uma cronologia que envolveu/envolve todos os atores políticos (Direita, Centro e Esquerda). Sinceramente, "ninguém" escaparia de punição se as lentes da Justiça funcionassem como deveria, com retidão e imparcialidade.

Afinal de contas, a corrupção no Brasil é sistêmica e endêmica, pois está arraigada ao longo dos séculos nas diferentes formas de navegação social cuja prática forjou, diria, uma espécie “gene’ do jeitinho brasileiro em que poucos, sinceramente, não praticam. Afinal, a maioria das relações sociais no Brasil está vinculada pela lógica de tirar vantagem em tudo, seja o sujeito um comerciante,  um advogado, um  professor etc.

Apesar de tudo isso, não deixa de ser relevante para construção de uma cultura política democrática que os descontentes possam expressar livremente seus descontentamentos, pois uma Democracia que se queira forte precisa ser submetida, vez por outra, à inquietação de seus atores por meio de mobilizações fora dos espaços tradicionais para que ela se fortaleça. No entanto, é preciso cuidado para que as mobilizações não desemboquem na negação da própria Democracia, e as bandeiras mais reacionárias voltem à baila da Agenda Política brasileira em que o falso moralismo tenta fazer “crer” que haverá uma redenção da sociedade por meio do discurso “moralizante” pregados nas mobilizações. Afinal, nossos representantes são uma “amostra” daquilo que acontece em todas as esferas da pirâmide social.

Diante disso, penso não haver solução imediata para os males da política sem a construção de um novo Estatuto Ético, ou seja, sem a substituição do “jeitinho” por práticas cotidianas de honestidade, que crie um sentimento Republicano de sociedade, o que exigirá uma reforma sistêmica (pessoal e social) a começar por nós mesmos. Do contrário, a foto para o facebook de nossa indignação fica perfeita, mas é apenas um quadro discursivo em que não se coaduna com nossas práticas cotidianas.   Somente isso pode estabelecer um novo habitus – a la Bourdieu - democrático que, a longo tempo, elimine a “corrupção nossa de cada dia”.


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