A Política e a Genética no Brasil
Raimundo França[1]
Não, não estou a enlouquecer caros leitores, afinal vocês podem interrogar-me: que tem a ver Política e Genética? À primeira impressão, a reposta seria negativa, ou seja, nada, pois, a Política é uma ciência que se dedica ao estudo do Poder em suas mais diferentes formas. Já a Genética é uma parte integrante da Biologia cuja à função é o estudo dos genes, isto é, dos componentes responsáveis por nosso legado hereditário, como: cor, sexo, cabelos, forma das orelhas e tantas outras facetas que nos constituem. Todavia, se a Genética determina nossas características hereditárias, quando observamos o contexto histórico do Sistema Político brasileiro, temos a nítida impressão que a Política no Brasil também faz parte do estudo da Genética, pois só ela para nos ajudar a compreender tamanha à disposição dos grupos familiares em reproduzirem-se no Poder.
Desde que por estas terras aportaram as primeiras caravelas, e a Coroa Portuguesa introduziu, na Colônia então invadida, o sistema de Sesmaria, assim como as Capitanias Hereditárias como meio de bem melhor garantir a conquista da Nova Terra. As famílias de Além-Mar que por aqui aportaram foram reproduzindo a lógica genética na Política Nacional, de início com Dom Pedro, o Primeiro; não tão contentes deixaram-nos desse lado do Atlântico Dom Pedro, o Segundo, quando do retorno da família real para Terra de Camões, de modo que estava semeado o gene na Política Nacional.
Nem mesmo o advento da República, em 1889, foi capaz de romper com essa estranha Genética, pois, logo veio a Política dos Governadores que imprimiu, definitivamente, a Genética familiar em nossa Política. Por este sistema os Presidentes do Brasil eram escolhidos não apenas pelo acordo mineiro-paulista, mas pelos conchavos com as elites familiares das outras redondezas de Norte a Sul do Brasil.
Nem a Ditadura Vargas e nem a Militar conseguiu por fim ao componente Genético de nossa Política, pelo contrário, foram nas Ditaduras que o mando hereditário das famílias ficaram mais cristalizados na Política brasileira, pois os acordos para manutenção de tais regimes gravitavam, impreterivelmente, pelo crivo das elites familiares locais e regionais.
Em 1985, o processo de redemocratização parecia germinar o fim do ciclo genético em nossa Política, mas só pareceu, pois, apesar de alguma renovação no quadro político, as velhas famílias e/ou mesmo novas famílias da nascente Democracia brasileira, logo se modernizaram utilizando-se, inclusive, da retórica democrática e, mais uma vez, estão a se reproduzir dentro e fora das agremiações partidárias, seja à “Direita”, ao “Centro” ou à “Esquerda” na trama histórica da conservação do traça hereditário em nossa Política.
Diante tais argumentos constatamos que entre a Política e a Genética tem-se muito de similitude em nosso Sistema Político, que nos permitem melhor compreender o modus operandi da luta e conservação do Poder em Terras Tupiniquins. Não obstante, somente, o interesse pela Política dos não descendentes, dos não herdeiros poderão alterar esse triste cenário oligárquico família imperativo na Política brasileira, notadamente, nos lugares mais recônditos do país.
[1] Professor Assistente do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Mato Grosso e Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
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