Eleições: Virtude e a Fortuna


Eleições: Virtude e a Fortuna

Raimundo França[*]

            A Virtude e a Fortuna são dois importantes sustentáculos da análise feita por Maquiavel em sua obra clássica, o Príncipe. Segundo ele é possível alcançar e/ou se manter no Poder sob várias formas, entre elas: a Virtude e/ou da Fortuna. A primeira revelaria a capacidade, a inteligência e a astúcia dos mais preparados. A segunda, o poderio econômico/bélico para obter os apoios necessários para conquista e preservação do Poder.  
            Maquiavel escreveu esse primado político no Século XV, mas, a nós parece, tê-lo escrito em pleno Século XXI, tamanha atualidade de sua análise para entendermos o processo político contemporâneo, mas precisamente, as últimas eleições no Brasil para todos os pleitos.
            A Virtude foi deslocada, pensada aqui em termos programáticos, isto é, da defesa de plataformas políticas; do confronto de projetos de sociedade e de governo; corroída pelo tempo e parece, cada vez mais, distante do mundo real em que o elemento principal não é o SER, mas o PARECER SER, pois marketing político cria personagens irreais que mais parecem sair das capas de revistas.
            Virtude na contemporaneidade transformou-se em Fortuna, ou seja, já não interessa ter um projeto político que alce mudanças programáticas substanciais para construção daquilo que reconheciam os socráticos como Bem Comum ou Bem de Todos. O que vale é ter Fortuna, pois ela permitirá a construção das imagens(fotoshop) que serão consumidas e transformadas em votos, fazendo com que, na maioria dos casos, os mais afortunados sejam alçados ao “reino dos céus”.
            Num tempo em que o que vale mais é ter Fortuna, a Política é dominada por aqueles que conseguem as benesses do financiamento privado e, portanto, alienando, com isso, o mandato ao financiador, regra básica porque passam todas as candidaturas, seja à Direita, seja à Esquerda no Brasil de hoje.
             O elemento econômico tem transformado a Política em política, nivelando os assuntos públicos à esfera privada e, portanto, monopólio das grandes empresas nacionais e multinacionais que agendam “O Bem Comum” que não é aquele defendido pelos grego-socráticos, mas pelos grandes magnatas do capital, que definem ao seu bel-prazer a Agenda Política.
            Diante de um cenário desses, a Virtude vai sendo gradativamente alijada da esfera Política, para o nosso caos, pois como diria Bertold Brecht: “Da Política depende tudo; O arroz; o feijão, o leite, o pão...” Logo, desprezar a Política e não analisa-lá profundamente é deixar os destinos da sua vida entregue à própria sorte, ou melhor, a sorte dos grandes proprietários do capital, que definirão os limites do “Bem Comum”.
           
           


[*] Professor de Sociologia da Universidade do Estado do Mato Grosso e Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Revisão Geral Anual (RGA) e as lições da cidadania ativa

A Universidade do lado do Avesso

Entre a aparência e a essência existe a interpretação