A Soberba
Não gosto da Soberba. Aliás, irrita-me, sinceramente, esse péssimo pecado capital. Entretanto, parece-nos que ela tem estado cada vez mais perto de nós e das coisas que fazemos. De modo que é necessário que a tratemos como defeito moral, extirpando-a de todos os lugares. Afinal, qual o direito que uma pessoa tem de querer ser superior à outra, se não a Soberba?
Ter um diploma, ir ao shopping, ser doutor, seguir uma religião, comer caviar e tantas outras formas. Isso todos poderemos vir a ser e/ou a ter. Todavia, para muitos, é preciso ratificar essa forma de diferenciação como status social e de imposição de reconhecimento de autoridade.
Tenho assistido, corriqueiramente, comportamentos soberbos: na Medicina, a pompa de muitos médicos, enfermeiros, técnicos, transformando o branco e o conhecimento adquirido em sua formação em instrumento de Soberba – não é “Doutor?
Na Política, o uso intermitente do prestígio pela proximidade ao Poder instituído para reforçar o velho teorema brasileiro: “Você sabe com quem está falando”?
No Direito, o uso abusivo da toga como símbolo de conhecimento e monopólio do chamado Ordenamento Jurídico.
Na academia, a pompa das titulações e a disputa para saber quem publicou uma vírgula a mais que o outro.
Na imprensa, jornalistas dão a impressão que detém a caixa de Pandora e dali tiram todas as respostas para os problemas do mundo.
Tudo isso, leva-nos a pensar que a sociedade foi inebriada pelo Canto da Sereia e, como todos estavam de ouvidos abertos, foram tomados pela Soberba. É verdade que a Sereia além de bela, tem uma cantoria sedutora, mesmo aos corações mais vigilantes, mas, ainda assim, é possível romper a sedução, basta apreciá-la com o olhar humano e não de deusa.
Ao médico cabe a vigilância de que, entre o bisturi e anatomia, há um igual à sua frente - em corpo e alma – e os tributos que pagam o seu bom salário, assim como a própria Universidade Pública, onde a maioria recebe sua formação; ao advogado, cabe a reflexão de que embora com o monopólio da jurisprudência em mãos, um outro ser tão bom quanto ele merece a retidão e o tratamento digno de gentes; ao jornalista, a certeza que sua função é tão importante quanto qualquer outra, mas, não mais ou melhor; aos acadêmicos, a reflexão dos dias lidos e vividos e o eterno retorno a Sócrates: “Só sei que nada sei”
A Soberba afasta o homem das conquistas mais interessantes da vida e o impede de progredir e aprender mais, pois o Soberbo, na maioria das vezes, esgota o aprendizado na primeira experiência e enxerga no outro um inferior ou nele mesmo. Afinal, a Soberba pode se uma sensação de inferioridade.
Na verdade, o Soberbo é um inferior, pois perdeu a capacidade de reflexividade sobre si mesmo, atributo rico aos humildes e aos sábios. Os grandes sábios que conhecemos eram e/ou são em sua maioria humildes de corpo e alma.
O sábio reconhece no outro e no mundo que o cerca um mar de oportunidades para novas lições, assim como se aceita na sua condição de Homem, igual a qualquer outro, mas nunca superior. Afinal, a dignidade e o respeito deveriam ser válidos para todas as pessoas que pelo menos se julgam racionais.
Desta maneira, a Soberba é um sentimento que só cabe às pessoas que não usam o cérebro na sua forma mais esplêndida para pensar sobre si mesmo e sobre seus atos. Prefiro a amizade de sentar à mesa de um coração humilde a arrogância de um banquete Soberbo. Quero distância dos Soberbos e mais ainda da Soberba.
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