O padre chorão.
Não é de hoje que escuto sobre a sensibilidade clerical aos mais pobres, pelas causas justas e às vezes injustas. O cônego é um ser de coração grande e amável. Estes adjetivos foram-me passados ao longo de minha infância e não me atrevo a discordar, pois tive o prazer de ter bons padres como amigos. Entretanto, por esses dias, caminhando e conversando com um amigo das bandas do sertão-nordestino, ele me contara a estória de um coração clerical-magnânimo que me chamou à atenção. Claro que preciso diminuir o enredo, dado meu amigo ter uma tendência à hipérbole. O fato é que numa cidadela nordestina, localizada entre os mandacarus e os cactus, morava o reverendo do lugar, homem de cultura, proseador e conselheiro, autoridade de Deus nas cercanias, muito bem quisto sertão adentro. Todavia, ocorreu um acidente e veio a falecer uma senhora da comunidade e chamaram o Padre para Oração do Enfermo, quando o Padre percebe a senhora no caixão estendida, coberta com flores singelas e o marido ao lado contendo as lágrimas tímidas a escorrer pelos cantos dos olhos. O Padre não conteve seu espanto e sua sensibilidade, e pôs-se a chorar copiosamente pela senhora que partia rumo ao Altíssimo. Os presentes não entendiam tamanha comoção, mas desconfiavam que a linhagem dos filhos da senhora assemelhava-se aos olhos azuis do Chorão. E quem duvidar que Padre não chora, provado estar que Padre também chora.
Raimundo França
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