A Educação como Valor



Raimundo França[1]
                                                                                                     

              Nos últimos decênios houve uma significativa melhora no Sistema Educacional brasileiro de modo que é possível dizer que há mais escolas, mais professores, mais investimentos em infraestrutura e tecnologia, mesmo os salários dos profissionais tem avançado em todos os níveis, embora que ainda sejam aviltantes para um país que pretende ser desenvolvido, mas este é um tema que pode ser abordado em outra oportunidade, pois o que pretendemos ressaltar é por que apesar desses avanços a qualidade da Educação não evolui na mesma proporção? 
              Diríamos que as respostas para esta pergunta são as mais variadas possíveis, pois pensar o Sistema Educacional consiste em analisá-lo a partir da própria trajetória histórica da sociedade, logo estar longe de nossas pretensões ter a chave de tamanho problema. Não obstante, percorrermos, nesta exposição, o conceito de Educação no sentido amplo, isto é, como o Valor no sentido Ético, que conduz o sujeito numa determinada direção, como propunha Emile Durkheim ao afirmar: “Educar significa ensinar a gerações novas os regramentos sociais da sociedade, preparando seus espírito para mundo”. Ou ainda, Paulo Freire, que, num outro entendimento, compreendia a Educação como processo contínuo de ensinar-aprender-ensinar, num circulo dialético, promovendo a autonomia dos sujeitos no processo educacional.
               A primeira perspectiva apresenta o sentido de Educação com forte componente Ético, mas conservador, posto que Durkheim alimenta a tese da Educação como regramento social determinado, isto é, moldar os espíritos jovens aos moldes dos espíritos mais velhos, mas também, por estes. Aliás, tal visão parece mesmo predominante em nossas salas de aula, pois muitos professores parecem ser os donos do Saber e ninguém mais dispõe de conhecimento para questioná-los.
               A segunda abordagem, proposta por Paulo Freire, também carrega um forte traço Ético, contudo ligada à compreensão progressista de Educação, isto é, encarando-a como um processo dialógico, ou seja, entre sujeitos que interagem conhecimentos e processando-os, geram novos saberes que desnudam não só a sociedade, mas a si mesmos. Tal postura tem por conseqüência o surgimento de sujeitos emancipados, grosso modo, capazes de pensar o mundo a partir de seus olhares, sem perder de vista o conhecimento como interação e não subserviência.
              Em nossos dias, nenhuma das concepções acima parece fazer sentido, pois nem as gerações passadas conseguem influir sobre as gerações mais novas de forma explícita; nem tão pouco exercitar o pensamento dialético como forma de despertar para o conhecimento, gerando novas e interessantes perspectivas, pois são parcos os estudantes que estão dispostos ao diálogo, ao questionamento, a crítica, mas que isso, ao esforço.
              O processo de aprendizagem requer indubitavelmente esforço e dedicação. Afinal, como dissera Rousseau: “para todo desejo exigir um esforço físico para sua realização”. Aqueles que conseguem perceber isso saem da Caverna, mas muitos, ainda assim, preferem a escuridão à Luz.
              Quando, por exemplo, perguntamos aos estudantes o que eles procuram na Universidade? A maioria das respostas é: um emprego. Não que isso não seja uma boa resposta, num mundo em que vale mais a empregabilidade - palavra da moda num mundo globalizante - do que geração de novos CONHECIMENTOS. Entretanto, a resposta talvez devesse ser APREENDER.
              Quando perguntamos aos estudantes o que você está disposto a fazer para APREENDER? A resposta majoritária é: não tenho tempo, preciso trabalhar, essas leituras são chatas. Ora APREENDER exigir esforço e dedicação e se você estiver a fim certamente absorverá o sentido de Educação como Valor e se não vir é a ser professor, matemático, físico, biólogo, médico, advogado será um bom pai com boas informações para seu filho, bom padeiro, bom ajudante, bom jornaleiro, bom taxista, um bom amigo e principalmente um bom sujeito.
               Se estiveres interessado em APREENDER vai aí uma dica: abra a janela do seu computador e baixe bons livros, boas músicas, boas palestras, pois há muita coisa interessante no mundo virtual que são gratuitos e você poderá acessá-las com uma simples busca. Não desperdice seu tempo com bobagens e fluidez. Esforço e dedicação são chaves importantes para APREENDER, mas se você prefere a escuridão, a Educação também incita a Liberdade e devemos defendê-la acima tudo, pois você optou pela Caverna.
               Por fim, o que pretendemos ressaltar é que a qualidade da Educação passa, a nosso juízo, não tão somente pela melhoria dos indicadores estruturais do Sistema Educacional, mas também pela atribuição de valor dada pela sociedade e por cada um de nós enquanto elemento Ético com vista à formação de sujeitos emancipados, livres de qualquer tutela.
                      
              


[1] Doutorando em Ciências Sociais (Política, Democracia e Sociedade) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Mestre Sociologia pela UFRN, Cientista Político e Sociólogo e Professor Assistente da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT). raimundofranca@gmail.com

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